A Igreja que somos nós

Caríssimos paroquianos e amigos, iniciando um novo ano civil, desejamos as melhores bençãos do céu a todos, na certeza de que Jesus permanece conosco para nos fazer instrumentos do seu amor e da sua paz.

Temos pensado muito nesses últimos tempos sobre a caminhada evangelizadora e missionária de toda a Igreja. Difundida nos cinco continentes, a Igreja, nascida do mistério de Deus e ferida pelos nossos pecados, vive mais uma mudança de época tendo como única meta evangelizar, anunciar o Reino de Deus a todos através de sua pregação e testemunho.

Porém, constatamos como as crescentes polarizações tem prejudicado o caminho de unidade desejado por Cristo para a sua Igreja. Vemos mais uma vez na história do cristianismo a instrumentalização das verdades da fé para atacar as liberdades humana e religiosa, numa leitura desequilibrada da História da Igreja e da realidade atual, vemos muitos “cristãos” atacar não somente a instituição religiosa, mas aquilo que para nós é decisão de Deus para o caminho da Igreja. Cremos na fé, não de forma simplista, que o Espírito Santo governa a Igreja e a preserva dos erros graves que seus membros podem realizar. Acreditamos na escolha de Deus para que a Igreja se mantenha unida em torno do Papa na diversidade de ministérios e carismas. Cremos na ação de Deus na Igreja.

Todavia, dada a realidade do negacionismo e das ignorâncias intelectual e religiosa, características dessa nossa “sociedade da tecnologia”, a crise em torno da autoridade nas instituições basilares do mundo atingem a própria Igreja no que se refere ao ministério papal, da hierarquia eclesiástica e dos fiéis que devem caminhar unidos a Cristo e à Igreja, como membros de um único corpo. Por não recordar da profundidade doutrinal e do vasto processo histórico da Igreja, vemos “autoridades” interpretarem o conteúdo da fé a seu modo ou sob a ótica de grupos puritanos e sectários que julgam possuir autoridade para ditar o que é ortodoxo ou herético na atualidade, dentro e fora da instituição. Longe de ser profecia querem construir uma igreja paralela, rigorista, sem papa ou com um papa manipulável, fraco, discursar sobre a fé para poucos, esquecendo-se de que a salvação de Jesus Cristo é dom universal e cósmico.

Nesse sentido, vemos nas redes sociais e no mundo da informação uma propaganda desequilibrada sobre a Igreja que somos nós. Também assistimos com tristeza a falta de verificação do que é propagado em cursos e oficinas “católicas”. Como vítimas escolhidas vemos o Concílio Vaticano II e o esforço dos papas do Concílio e do Papa Francisco de fazer a Igreja casa de todos e serva da humanidade, um verdadeiro hospital de campanha para curar e reconstruir vidas. Numa doutrinação perniciosa e rasa, vemos crescer o culto da imagem em vez de ver agir em nós o Espírito do Evangelho. No entanto, não devemos desanimar. O Espírito de Deus fará surgir um mundo renovado.

Sabendo que a Verdade sempre triunfa, vimos a pouco o caminho difícil assumido pela Igreja e pelo Papa diante de crimes contra a vida das crianças e contra a unidade do Corpo de Cristo. O Papa Francisco é um homem de coragem. Faz bem em evidenciar que são aqueles que dividem a Igreja covardemente com um discurso polarizado e vazio. Ensina ao mundo que anunciar o Evangelho exige coerência e liberdade. A Igreja sairá mais forte e mais fiel a Cristo dessa tempestade. Fortalecei, Senhor, com vossos dons, o Papa e a todos nós!

Olhemos para nós! Numa comunidade como a nossa, somos desafiados a viver a unidade que não se firmará no acordo das ideias ou das ideologias, mas sim da vitalidade da fé e do bom uso da razão. A unidade da Igreja Universal (presente em todo mundo), acontece quando trabalhamos a base na formação e na pastoral de conjunto. Isso exige a superação da cultura do espetáculo para o encontro com Cristo no mundo real, repleto de desafios, mas amado e querido pelo nosso Deus. Em nossa Diocese vemos o esforço que nasce do Sínodo Diocesano e do 8º Plano de Pastoral. Em nossa comunidade, a reorganização e a formação deram passos iniciais que, ao longo desse novo ano, serão firmados e revisados em assembleia.

A novena e festa de Nossa Senhora da Candelária, inspirada na carta encíclica Fratelli Tutti, ajudarão na renovação da fé pessoal e comunitária se nos dispusermos a caminhar juntos, com humildade, procurando testemunhar nosso batismo na escuta, no diálogo e no serviço. Diante do desafio de sermos todos irmãos, lembremo-nos: Por graça de Deus, a Igreja somos nós!

Bom ano e perseverança na fé!

Pe. Felipe Cosme Damião Sobrinho, pároco