Cristo é a nossa paz!

Minhas irmãs e meus irmãos, estamos caminhando para a celebração do ciclo pascal, iniciado com o tempo da quaresma, momento propício onde a liturgia nos convida a conversão. A vida e a missão da Igreja estão centradas no Mistério Pascal de Cristo e, desde o início do cristianismo, há um período de preparação para bem celebrarmos a solenidade pascal. A quaresma torna-se um tempo importante para trilharmos o nosso itinerário de vida cristã da cruz à ressurreição.

A Quaresma na Igreja no Brasil tem o incremento pedagógico da Campanha da Fraternidade, celebrada nacionalmente desde 1964. É um instrumento muito válido para a conversão pessoal e comunitária. Nos últimos anos, vemos com tristeza que, por haver um reducionismo a respeito da vida cristã e da santidade de vida, muitos menosprezam a Campanha. Porém, um católico autêntico, estudando e aprofundando o sentido de sua vida de fé, compreende a campanha da fraternidade como um belo exercício espiritual que aprofunda o sentido do jejum, da esmola e da oração incentivados neste tempo de conversão para a salvação.

Desde o ano 2000, num intervalo médio de um quinquênio, celebramos a Campanha da Fraternidade Ecumênica, como um instrumento de unidade entre a Igreja e demais comunidades cristãs que juntas caminham na oração, na reflexão teológica e no desafio da fraternidade humana e cristã. Esse ano celebramos a quinta edição sob o tema Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade (Ef 2,14a). Num mundo de muitos muros, a Palavra de Deus nos convida a construir pontes, como nos insiste o Santo Padre, o Papa Francisco.

Os temas do ecumenismo, diálogo inter-religioso e da liberdade religiosa têm sido fortemente atacados em nosso tempo. Após um percurso de sacrifício e conversão, fortalecido pelo Concílio Vaticano II e pelos papas desde São João XXIII, vemos com tristeza e ignorância muitos membros da Igreja se pautar no fundamentalismo religioso e nas ideologias que levam ao negacionismo e ao racismo. Reduzem temas fundamentais para o mundo de hoje às afirmações das fake News, se contentam com qualquer discurso de falsos cristãos piedosos em vez de aprofundar-se no estudo da doutrina da Igreja e do ensino evolutivo dos papas. Perdem, assim, a oportunidade de serem cristãos católicos autênticos e corresponsáveis pela salvação de todo o gênero humano e da nossa casa comum, o planeta.

Quando aprofundamos as pautas da unidade cristã e da liberdade religiosa reconhecendo a importância das religiões para a fraternidade universal, descobrimos como é uma grande responsabilidade assumir o nome de cristão. Num mundo de preocupante ideologização da política, violência, economia, saúde e da religião, o estudo e o diálogo são vacinas eficazes para sermos pessoas de fé que desejam assemelhar-se a Jesus. Ele é o Mestre do diálogo, pois é a Verdade encarnada, que comunica com a entrega de sua vida a vida plena a todos. Jesus derrubou, de uma vez por todas, as muralhas da inimizade que nem a batalha de Jericó tinha derrubado, pois Ele venceu o pecado e a morte com o seu sangue. É Ele o princípio da unidade que todos os cristãos devem almejar com ânimo sempre renovado!

A quaresma, tempo que nos leva à pascoa nos apontando a Páscoa definitiva, o Reino de Deus, nos leva do pecado ao revigoramento humano e espiritual. Somos pó amado por Deus, como nos disse o Papa Francisco na Quarta-Feira de Cinzas do ano passado, uma vez que Cristo nos concedeu novamente a filiação divina. Que saibamos reconhecer no próximo o irmão querido, a irmã querida, feridos pelo pecado, mas não esquecidos por Deus. Saibamos reconhecer que dos nossos caminhos tortos, Deus faz reluzir a estrada da salvação e da verdadeira liberdade, para que todos tenham vida. Que esse tempo favorável não seja desperdiçado com práticas frias e intimistas, mas seja aproveitado para superar preconceitos e desafios, retirando-nos da preguiça na vida intelectual e espiritual.

Que tenhamos uma santa Quaresma amando o próximo, construindo pontes. Amém!

Pe. Felipe Cosme Damião Sobrinho, pároco